"Maria, Maria é um dom, uma certa magia
Uma força que nos alerta
Uma mulher que merece viver e amar
Como outra qualquer do planeta
Maria, Maria é o som, é a cor, é o suor
É a dose mais forte e lenta
De uma gente que ri quando deve chorar
E não vive, apenas aguenta"
(Milton Nascimento)
Muitas MARIAS vivem, sobrevivem, subsistem, agoniam e clamam caladas em tantos lares no nosso planeta. Mas eu falo apenas daquelas que eu conheci. Das Marias que fotografo, que registro e que ajudo a cada uma delas a reconstruírem o que foi perdido em décadas de desamor, ignorância, agressões e violências.
São Marias mães, avós, tias e irmãs. São Marias que se doaram a seus pares por anos, criaram seus filhos, viveram para seus maridos e famílias. São Marias que se ANULARAM.
Mas essas mulheres um dia cansaram. Foram muitos nãos da vida. Não da família, dos filhos e esposos. O não pode isso, não é pra você, eu não quero e eu não deixo. O que irão falar? São Marias que viveram décadas sob a supervisão de uma autoridade masculina, inflamada por uma cultura que há mais de 5000 anos as colocou como um escrava. A escrava do lar, a escrava do sexo e do trabalho.
Milênios se passaram e essas MARIAS seguem lutando para ao menos pode realizar sonhos. Muitas dessas mulheres ascenderam socialmente, conquistaram bens materiais, cargos altos, ótimas remunerações. Mas em uma sociedade patriarcal como a nossa, no fundo seguem sendo apenas MARIAS para muitos homens.
Espero que todas elas, ainda que lutem, que chorem e que se for necessário, não morram nas mãos de seus "tutores" legais (Vide estrutura do contrato de casamento) sigam buscando seu lugar ao SOL. Um lugar que em um dia, em um lugar dividiu altares, que igualmente foram DEUSAS e que compartilharam nações e povos.
Que todas essas MARIAS busquem forças em seu DNA da nossa era da caça, a qual ela dividia poderes, protegia suas crias e matava seu oponente em detrimento do grupo. E não abaixava a cabeça para o sexo oposto. Que todas elas tenham a força das antigas deusas mortas e apagadas pelo monoteísmo, substituindo a sua divindade da FERTILIDADE pelo lugar do MACHO.
Que essas MARIAS possam todos os dias lutar com garra, acreditar que sim, um dia foram caladas. Que elas possam estudar e compreender que um dia foram arrancadas do céu e postas à servidão.
Esperançar é esperar acreditando, sonhando e fazendo. Não se permita mais sofrer. Sonhe sim e lute quando necessário. Nenhum homem tem o direito de te calar. Acorde mulher, um dia você foi condicionada a viver assim. Mas todas as MARIAS que eu registrei, aos 40, 50 ou 60 anos, enfim acordaram. E não porque mostraram a bunda na foto, mas porque tomaram as rédeas da sua vida para nunca mais voltar à servidão.
Vocês são fodas.